segunda-feira, 8 de outubro de 2018

A minha ligação a Sintra























A minha ligação a Sintra já vem de longe, começou nos meus primeiros 14 anos de vida, com as estadias, visitas e férias na quinta do meu avô em Albarraque - com a vista da Serra de Sintra sempre presente. Continuou mais tarde quando morei 8 anos em Magoito, também com a vista da Serra sempre presente.
Este meu registo vem a propósito de através de uma partilha de um texto de Tiago Bueso (não o conheço), acerca da lista de "coisas" do que é ser de Sintra, a maioria delas foram vividas e sentidas por mim ao longo destes tempos. Agora moro do outro lado da Serra, perto de Cascais mas sempre com a Serra de Sintra no horizonte, mas o posicionamento é diferente, o que estava à esquerda em Sintra em Cascais está à direita e vice-versa. A todos os níveis: Beleza, Natureza, Perfil, Cultura, Monumentos, História e outros menores, considero-a a Serra mais bonita de Portugal.

A lista partilhada de Tiago Bueso em Setembro de 2016 acerca do que "é Ser de Sintra":

  1. Sentires-te em casa quando chegas a Ranholas;
  2. Ires à praia entre as 12h e as 17h, porque até às 12h o céu está nublado e a partir das 17h também;
  3. Teres passado as noites de Verão da tua adolescência no "Maria Bolachas";
  4. Saberes que o Verão começa com as festas de São Pedro e termina com as festas de São João das Lampas;
  5. Ouvires chamarem-te betinho só por dizeres que és de Sintra (até podes ter o corpo todo tatuado e uma torneira presa no nariz, mas serás sempre betinho porque és de Sintra);
  6. Saberes que o dérbi 1º Dezembro - Sintrense é tão ou mais importante do que um Benfica - Sporting;
  7. Saberes que Magoito, Tojeira, Bolembre e Arneiro são terras diferentes, mesmo que o presidente do MTBA te diga o contrário;
  8. Comprares uma fatia de salame de chocolate sempre que vais à feira de São Pedro;
  9. Contares histórias sobre rituais satânicos na Peninha sem teres presenciado nenhum;
  10. Saberes porque estão tantos carros parados no largo de Sta. Eufémia às sextas e sábados à noite... sem que ninguém saia dos carros;
  11. Olhares para a serra e veres o castelo à esquerda e o palácio à direita ou, no caso de viveres em São Pedro ou na Portela de Sintra, veres os dois de "esguelha" e o castelo mais alto do que o palácio (se vês o palácio à esquerda e o castelo à direita, não vives em Sintra);
  12. Entrares na faculdade e ficares feliz por ouvir um monte de gente dizer que é de Sintra mas, quando perguntas de que zona, respondem-te Rio de Mouro, Cacém ou Tapada das Mercês;
  13. Saberes que estás na fronteira da tua "zona de conforto" quando chegas ao Cabo da Roca (porque depois é Cascais), ou quando chegas à Praia de São Julião (cuja metade sul ainda é Sintra, mas a metade norte já é Mafra);
  14. Evitares o centro histórico durante o fim-de-semana, porque sabes que a hora de ponta de Lisboa se transferiu para a "Volta do Duche";
  15. Dizerem-te que o travesseiro e a queijada são os doces típicos da tua terra, mas saberes que o segredo mais bem guardado é o pastel da Cruz Alta.
 Estão salientados os pontos em que concordo e que já senti, à lista tenho que acrescentar um ponto que aconteceu dezenas ou centenas de vezes comigo, o 16.º:

Só podes ser de Sintra, quando estás em Lisboa com guarda-chuva num dia de sol, ou quando estás vestido de uma forma primaveril e está a chover;



Louvar Sintra. Amar Sintra

"Sintra é o mais belo adeus da Europa quando enfim encontra o mar."
(...)
"Sintra é o único lugar do país em que a História se fez jardim. Porque toda a sua legenda converge para aí e os seus próprios monumentos falam menos do passado do que de um eterno presente de verdura. E a memória do que foi mesmo em tragédia desvanece-se no ar ou reverdece numa hera de um muro antigo." 
(...)
Amar o seu silêncio, a frescura inicial da alma, a História e monumentos feitos elementos da Natureza. Amar a legenda sempre recente, a memória breve, a iniciação à alegria que não cansa.

[Textos do livro Sintra Património da Humanidade, edição CMS (1998), Vergílio Ferreira (1916-1996)]

domingo, 7 de outubro de 2018

MÁS LEMBRANÇAS - Incêndio na Charneca do Guincho em Outubro de 2018


Pela segunda vez desde que que fui morar para a Charneca do Guincho que fui confrontado e ameaçado com incêndio na zona, o de ontem começou na Serra de Sintra - Santuário da Peninha às 22h50m numa noite de ventos muitos fortes. Não vou especular acerca da origem.

Saí da Charneca e vim para Lisboa às 3h de hoje, a Charneca foi evacuada às 3h30m.

Ao final da manhã de hoje o incêndio está controlado, fica a paisagem toda negra para memória futura - mais uma vez.

Há 15 anos atrás, em 2003, o primeiro incêndio teve mais impacto para mim, começou na Malveira da Serra, esteve a 35 metros da minha casa, eu e muitos moradores andámos a "ajudar" a apagar o fogo num pinhal perto de casa, para sempre ficará gravado na minha memória a impotência que é entrar num pinhal, olhar para a esquerda, direita e para cima e ver sempre o mesmo cenário aterrador e mesmo assim despejar os 2 baldes de água e pensar “será que serve para alguma coisa?” … mas mesmo assim ... continuar … continuar … continuar ...

No incêndio de 2003, houve muitas cenas caricatas ocorridas durante o incêndio, vedar o acesso aos bombeiros, proteger campos de golfe, etc. de alguém e família com apelido “muito importante” e com fortes interesses na zona, não gosto de especular, mas dão o nome a um centro de investigação sobre o cancro na zona de Algés. "Limpeza" de consciência?

Outras marcas posteriores a esse incêndio, as palavras na altura já as ouço agora acerca dos interesses e de proteger a zona do parque natural - “contra quem?”, 

- POSITIVO: não deixaram construir o campo de golfe da Malveira à Praia do Abano;
- NEGATIVO: foi construído um novo condomínio de luxo “Marinha Guincho” que começa na Malveira em direcção ao Guincho, o Plano Director de Cascais foi reformulado na zona e o início do Parque Natural Sintra Cascais ficou mais perto da Serra de Sintra – libertando uma área substancial de terreno – “deve ser para ser protegido de uma forma mais eficaz pela Câmara de Cascais!”, e outras situações mais ou menos disfarçadas ou escondidas. No vale da Charneca os mesmos senhores para dar uma justificação aos terrenos que possuem e não sei com que objectivo, construíram várias casas de madeira que são habitadas por "caseiros".

É frustrante! 



FOTOS, as fotos mostradas foram obtidas no site do Diário de Notícias, fotografo André Dias Nobre. 

As fotos mostradas a seguir são todas das mesma zona, a referência é o início da estrada para a praia do Abano e Bar do Guincho.






























Prever o Futuro

Das coisas mais difíceis que há na vida é prever o futuro. Quando se tem quarenta anos, e já se pode olhar isto com certa perspectiva, é que se vê como se errou em todas as profecias. Conseguem-se vislumbrar, quando muito, as linhas gerais, os aspectos mais grosseiros das veredas do porvir. Isto, por exemplo: que a humanidade é móvel, oscilante, indo para o mau caminho quando vai no bom, e para o bom quando vai no mau.

["Prever o Futuro" em "Diário (1948), Miguel Torga (1907-1995)]