quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Cavalos da raça Ardennais






Por motivos vários, tenho acordado bastante cedo nos últimos tempos, coloco os auscultadores e ouço rádio, normalmente está a dar o programa do José Candeias na Antena 1, são estabelecidos contactos com os ouvintes que normalmente aquela hora estão a trabalhar, grande parte são padeiros nas suas entregas diárias, camionistas, agricultores, outras profissões e não só, quer em Portugal como no estrangeiro, para mim, é uma boa alternativa às outras estações de rádios em que põem a tocar as "playlists" que ao fim de algum tempo saturam.
Na conversa com as pessoas o José Candeias por um lado faz perguntas sobre a origem, o local, o trabalho, festividades, sempre vou aprendendo alguma coisa, hoje na conversa com um trabalhador da Parques de Sintra Monte da Lua (PSML), fiquei a saber algo que desconhecia, desde 2011 que utilizam cavalos da raça Ardennais nos trabalhos de manutenção e limpeza da floresta do parque, substituindo com vantagem máquinas que normalmente tem um impacto negativo na natureza. São três os cavalos, nomes: Kali,  Valseur e Medhi.
É caso único em Portugal, a Serra de Sintra tem um microclima para o qual contribui a proximidade do mar (sempre "presente"), a adaptação foi rápida e sem qualquer tipo de problema.
Quanto à raça do cavalo Ardennais, são os chamados cavalo de tracção, são muito fortes e ágeis, e de temperamento muito dócil, pesando entre 700 e 1000 kg, parecem que tem pantufas nas patas, são ensinados desde pequenos a responderem a comandos através de ordens vocais monossilábicas, respondem pelo seu nome e a 10 ou mais tipos diferentes de sons, por exemplo existe um som para virar à direita, outro para virar à esquerda, etc. Efectuam exercícios de precisão (empilhando os troncos com determinada ordem), exercícios de força (puxando grandes troncos) e exercícios de equilíbrio (um tronco por cima de outro), bem como percursos com os troncos entre as árvores (evitando obstáculos).


Vou tentar relatar um dia de trabalho típico a partir do que ouvi no programa:
  • Saem dos estábulos com alforges onde levam água, a sua comida e a do tratador, vão até ao local de trabalho;
  • No local da intervenção, são identificadas e marcadas todas as espécies que não devem ser destruídas no solo, desde a estrada até ao local onde se irá proceder à limpeza e/ou manutenção;
  • A fase seguinte passa por estabelecer um carreiro que deverá ser seguido pelo cavalo, contornando as árvores e contornando as marcas das espécies da natureza identificadas. Trabalho impossível de executar com máquinas;
  • A comunicação entre o trabalhador e o cavalo é através de ordens vocais, respondem pelo seu nome e a 10 tipos diferentes de sons, Quase que não é necessário usar rédeas;
  • A dimensão do corte dos troncos a transportar varia conforme inclinação, percurso e distância até à estrada;
  • O trabalho termina após várias viagens com a colocação na estrada de tudo o que foi limpo ou cortado para posterior recolha.

Os cavalos belgas bebem oitenta litros de água por dia, comem nove quilos de ração.
Os três animais custaram 3500 euros cada um em 2010/2011.
Há 42 anos que os cavalos não eram utilizados neste tipo de trabalhos na serra de Sintra.


Transcrição parcial do site da Parques de Sintra Monte da Lua (PSML)
A Parques de Sintra-Monte da Lua reintroduziu técnicas tradicionais – ambientalmente sustentáveis – de exploração e manutenção das áreas florestais sob gestão utilizando cavalos de trabalho de raça Ardennais. Estes cavalos apoiam os trabalhos florestais (transporte de madeira, recolha de resíduos, limpeza de estradas e caminhos, etc) e permitem os passeios de charrete pelas paragens do Parque da Pena.
Os cavalos – o Kali, o Valseur e o Medhi – estão alojados nas cavalariças da Abegoaria da Quinta da Pena, onde também estão alojados quatro cavalos de sela e recreio (para turismo equestre).
Existem demonstrações dos trabalhos florestais, nas quais os tratadores apresentam a forma como trabalham na floresta com os cavalos Ardennais. Com comando através de ordens vocais (respondem pelo seu nome e a 10 tipos diferentes de sons) efectuam exercícios de precisão (empilhando os troncos com determinada ordem), exercícios de força (puxando grandes troncos) e exercícios de equilíbrio (um tronco por cima de outro), bem como percursos com os troncos entre as árvores (evitando obstáculos).
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A escolha desta raça prendeu-se com os impactos que este trabalho tem num contexto de gestão sustentável das florestas. A mecanização florestal deve ser restringida sempre que a topografia do local é acidentada e o risco de erosão do solo é elevado, colocando em risco valores importantes para a preservação do património natural e cultural (nomeadamente as áreas classificadas como Rede Natura e Paisagem Cultural da Humanidade pela UNESCO, sob a salvaguarda da PSML), e o trabalho de tracção animal permite reduzir substancialmente estes impactos.
As grandes vantagens da utilização de cavalos nestas áreas prendem-se, além do elevado interesse por parte dos visitantes, com a conservação do solo, o acesso a zonas acidentadas, a preservação da regeneração natural e das árvores existentes, a diversificação dos métodos de trabalho, a salvaguarda dos usos e do saber tradicionais, a ausência de poluição sonora e atmosférica, a independência de energias fósseis e a melhoria do rendimento de trabalho e complementaridade entre as máquinas e os animais. Como outrora, os cavalos podem também ser utilizados na atrelagem, em práticas agrícolas, na recolha de resíduos, na limpeza de estradas e caminhos e em actividades educativas e recreativas nos parques.

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 Fonte: https://www.parquesdesintra.pt/pontos-de-atracao/cavalos-ardennais1/
 31 de Outubro de 2013

VIDEO, de apresentação dos Ardennais pela PSML, para ver clique aqui.



RAÇA DE EQUINO ARDENNAIS

  • Identificação: Cavalo de tracção, compacto e musculoso, com membros desproporcionalmente curtos e de ossatura extremamente larga abaixo dos joelhos e dos curvilhões. A cabeça é uniforme grande e levemente convexa. A potência do pescoço e dos músculos, tanto da paleta quanto da garupa e nádegas, cria a ilusão de que não há dorso ou anca entre o peito e os quartos posteriores. As patas são grandes e peludas;
  • Carga Genética: Trata-se de uma raça autóctone de França e da Bélgica, uma linhagem que evoluiu no Norte da Europa a partir da milenar migração do Berbere, cuja rota se fez da Ásia Central para o Oeste, transformando-se num ramo do chamado Cavalo Nórdico;
  • Histórico: A raça possui a aparência actual há mais de dois mil anos, ao que se sabe, sendo primordialmente da França e da Bélgica, embora o cavalo das Ardenas tenha sido levado, posteriormente, para a Suécia também. Supostamente, trata-se de uma das linhagens autóctones das nações francas, mencionada por Júlio César em suas narrativas das guerras no que ele chamava de Gália. Na Suécia, a utilização da raça é recente e a potência dos animais sofre nas regiões escandinavas mais frias;
  • Função: até a era da mecanização, o Ardennais, assim como outros cavalos de tiro nórdicos, prestou inestimável contribuição à agricultura. Nos dias actuais, contudo, não estão de todo dispensados, sendo utilizados em regiões madeireiras de difícil acesso para veículos, mesmo para tractores;
  • Altura: na França e na Bélgica, em torno de 1,53m e, na Suécia, pode atingir 1,60m, sendo, porém, menos compacto e musculoso;
  • Pelagem: Cor de canela e castanha, com casos de castanho-interpolado (ruano), ou seja, mescla de pêlos brancos, negros e vermelhos, ou de brancos e vermelhos, com crinas e membros negros.

PARQUES DE SINTRA-MONTE DA LUA, S.A. (PSML), é uma empresa de capitais exclusivamente públicos, criada em 2000, no seguimento da classificação pela UNESCO da Paisagem Cultural de Sintra como Património Mundial da Humanidade (1995). A sua criação teve como objectivo reunir as instituições com responsabilidade na salvaguarda e valorização da Paisagem Cultural de Sintra, e o Estado Português entregou-lhe a gestão das suas principais propriedades na zona. Não recorre ao Orçamento do Estado, pelo que a recuperação e manutenção do património que gere são asseguradas pelas receitas de bilheteiras, lojas, cafetarias e aluguer de espaços para eventos. Não tem fins lucrativos, na medida em que todos os lucros são investidos na salvaguarda e valorização de património sob a sua gestão.

FOTOS, as fotos publicadas foram obtidas na internet no site da PSML.



Remoção de troncos no Parque da Pena, por um cavalo Ardennais. ©PSML

Passeio de charrete puxada por cavalos Ardennais. ©PSML

Passeio de charrete puxada por cavalos Ardennais. ©PSML

Passeio de charrete puxada por cavalos Ardennais. ©PSML

Passeio de charrete puxada por cavalos Ardennais. ©PSML

































































































































Flor que não dura
Mais do que a sombra dum momento
Tua frescura
Persiste no meu pensamento.


Não te perdi
No que sou eu,
Só nunca mais, ó flor, te vi
Onde não sou senão a terra e o céu.




["Flor que não Dura" em "Cancioneiro", Fernando Pessoa (1888-1935)]

sábado, 3 de fevereiro de 2018

Walkman fará 39 anos em 2018



Numa pesquisa recente na internet sobre a Sony, por casualidade apareceu-me notícias sobre o lançamento e aniversário do Walkman do qual eu fui um utilizador.

Eis a notícia publicada no Jornal Público na data de 30 de Junho de 2009:

Walkman faz 30 anos

O primeiro modelo do mais popular leitor portátil de cassetes chegou às lojas há 30 anos. O aparelho era azul e cinzento – e substancialmente maior do que qualquer moderno leitor de áudio.
O Walkman foi o primeiro aparelho a massificar a música portátil. Mas, no que à tecnologia diz respeito, está longe de ter sido pioneiro.
Os leitores portáteis de cassetes existiam há anos. O Walkman teve o mérito de ser um aparelho barato, prático (para os padrões da altura) e, sobretudo, bem publicitado pela Sony.
A 1 de Julho de 1979, o Walkman chegou às lojas japonesas (mesmo antes das férias de Verão dos estudantes e com o objectivo de captar um público jovem). Não muito depois, o aparelho foi distribuído por outros mercados.
O primeiro mês após o lançamento foi decepcionante: apenas três mil unidades foram vendidas e a imprensa e os comerciantes começavam a duvidar do sucesso da ideia. Mas a Sony reagiu rapidamente com um grande esforço de marketing.
Como forma de campanha, a Sony ofereceu Walkmans a celebridades para que estas o usassem. Os funcionários das lojas também tinham Walkmans e incentivavam os clientes a experimentá-los. E os próprios funcionários da Sony passeavam-se pelas ruas japonesas com um Walkman. A empresa teve ainda de combater a má imagem associada aos grandes auscultadores (que, mais tarde, chegaram a ser moda).
A estratégia deu resultados: as vendas dispararam, as primeiras 30 mil unidades produzidas esgotaram no final de Agosto e, antes do fim do ano, o produto era um sucesso e estava pronto para marcar o mundo da música da década de 80.
Depois do primeiro Walkman, seguiram-se vários modelos com a mesma marca. E a designação não se esgotou nos leitores de cassetes – foi usada para outros leitores de áudio da Sony, incluindo leitores de CD, de mini-discs (uma tecnologia que nunca vingou) e nos modernos leitores digitais.
Recentemente, a BBC fez com que um adolescente de 13 anos usasse durante alguns dias o primeiro modelo do Walkman em vez do habitual iPod. Foram precisos três dias para que o jovem descobrisse que a cassete tinha dois lados.

Só no final do ano de 1980, é que adquiri um aparelho Walkman que me deu muitos milhares de horas de música em "movimento". O aparelho que adquiri vinha com as cores originais azul e prateado, modelo TPS-L2, com a utilização dos auscultadores permitiu a explosão do som individual, só ouvíamos o que nos interessava e gostávamos sem incomodar a "vizinhança".

A utilização deste aparelho também mudou muito o aspecto visual das pessoas na rua, passou a ser cada vez mais comum ver as pessoas de auscultadores na cabeça, o respectivo fio que descia para um lado um outro do corpo para encaixar no leitor, normalmente ficava num bolso ou preso ao cinto.
Penso que também aumentou a importância dada às musicas gravadas em cassete, eu próprio adquiri muitas originais em vez de comprar discos, depois havia as trocas e as gravações das celebres listas que emprestávamos uns aos outros.

Anos mais tarde, com a mudança de aparelhagem, deixei de ter um gravador de cassetes e passei a ter um leitor de CD, a pouco e pouco foi perdendo a importância até que um dia me desfiz do Walkman e de todas as cassetes.

Com saudade, recordo as centenas ou milhares de horas a ouvir música em frente ao mar, o melhor dos dois mundos, a observação acompanhada de bela música.


FITA CASSETE OU COMPACT CASSETE, é um padrão de fita magnética para gravação de áudio lançado oficialmente em 1963, invenção da empresa holandesa Philips. Também é abreviado como K7.
O cassete era constituída basicamente por 2 carretéis, a fita magnética e todo o mecanismo de movimento da fita alojados numa caixa plástica, isto facilitava o manuseio e a utilização permitindo que a fita fosse colocada ou retirada em qualquer ponto da reprodução ou gravação sem a necessidade de ser rebobinada como as fitas de rolo. Com um tamanho de 10 por 7 cm, a caixa plástica permitia uma enorme economia de espaço e um excelente manuseio em relação às fitas tradicionais.

FOTOS, algumas das fotos publicadas foram obtidas na Wikipédia e no site da Sony.



O interior
A Cassete, 10 por 7 cm















Vista de frente
Comandos




























Esta é a minha figura "normal" de ouvinte de Walkman nos finais de 1982, nesta foto guardava o aparelho num dos bolsos do blusão, normalmente ficava preso no cinto.




















Cai a chuva abandonada
à minha melancolia,
a melancolia do nada
que é tudo o que em nós se cria.

 
Memória estranha de outrora
não a sei e está presente.
Em mim por si se demora
e nada em mim a consente

 
do que me fala à razão.
Mas a razão é limite
do que tem ocasião

 
de negar o que me fite
de onde é a minha mansão
que é mansão no sem-limite.
Ao longe e ao alto é que estou
e só daí é que sou.


 ["Cai a Chuva Abandonada" em "Conta-Corrente 1" (1980), Vergílio Ferreira (1916-1996)]