sexta-feira, 20 de abril de 2018

O burro "anão" da Graciosa, Ilha Graciosa, Açores


Quando se faz pesquisas sobre determinado tema, surgem outros associados que despertam a curiosidade e a procura por um maior conhecimento. O tema que me despertou a curiosidade teve a ver com a frase "A Graciosa é conhecida como a ilha dos burros".

Chegou a haver um por cada seis habitantes na década de 1960, uma estatística efectuada na altura apontava para um efectivo de 1196 burros, quando a ilha tinha 6800 habitantes. Na altura, a raça era utilizada no transporte de pessoas, que montavam o burro ou utilizavam-no para puxar carroças de madeira, mas também na agricultura, para lavrar a terra, e até em actividades lúdicas, como "burricadas". Com origem no norte de África, o Burro da Graciosa chega a ter menos de um metro ao garrote e não ultrapassa 1,04 metros.

O reconhecimento como raça surgiu em finais de Junho de 2015, graças aos estudos biométricos e genéticos do Centro de Biotecnologia da Universidade dos Açores, liderado pelo professor Artur Machado. 

Em 2015 não seriam mais de 70. O burro “anão” da Graciosa reconhecido como raça autóctone desde Junho de 2015, a segunda no país depois dos jericos de Miranda. Eram exportados para as outras ilhas do arquipélago. Nos Açores, a Graciosa era conhecida como a “ilha dos burros”.

Segundo Franco Ceraolo (ACABAIG - Associação de Criadores e Amigos do Burro Anão da Ilha Graciosa), se for bem tratado, o Burro da Graciosa é "muito mansinho", não se assusta com facilidade e, apesar de andar devagar, transmite muita "segurança", por isso, é ideal para passeios turísticos porque "permite apreciar a paisagem".
As características do animal são também favoráveis ao contacto com crianças, segundo o criador, que já organizou alguns passeios para os filhos dos amigos. Para além do potencial turístico, o presidente da associação acredita que o Burro da Graciosa possa ser utilizado na asinoterapia (terapias em que são usados burros) ou na produção de leite, o que já é feito na ilha Terceira. Para o criador, os burros podem até ser simples "animais de companhia" ou ajudar nas lides domésticas. "Tenho um jardim com relva e há anos que não uso máquinas roçadoras. Deixo entrar um burro ou dois e durante dois dias eles comem. Fazem uma limpeza fantástica e não estragam as flores", salientou.


ASININO, no dicionário: Que se relaciona a asno; característico de asno; asnático.

ASNO, (nome científico: Equus africanus asinus) é uma subespécie doméstica do Asno-selvagem-africano. É um mamífero perissodáctilo da família Equidae, cujo nome popular é jumento, jegue, jerico, burro ou ainda asno-doméstico. De tamanho médio (conforme a raça), focinho e orelhas compridas, é utilizado desde a Pré-história como animal de carga. Os ancestrais selvagens dos asnos foram domesticados por volta de 5 000 a.C., praticamente ao mesmo tempo que os cavalos, e, desde então, têm sido utilizados pelos homens como animais de carga e montaria.
Os asnos classificam-se dentro da ordem dos Perissodáctilos, e à família Equidae, à qual também pertencem os cavalos, pertencendo ambos a um único género, os Equídeos (Equus).


DESCRIÇÃO DA RAÇA, o Burro da Graciosa é de pequena dimensão apresentando uma altura ao garrote média quer nos machos, quer nas fêmeas de 107 cm. A cabeça é proporcional ao corpo, sendo o seu perfil convexo a recto, o rosto é comprido, não muito largo, apresenta lábios finos, orelhas de tamanho médio de linha recta, aprumadas e orladas de preto na maioria dos animais, os olhos não são muito grandes. O pescoço é delgado e reto, com crinas curtas mais escuras ou da mesma coloração da pelagem.

Os animais são brevilíneos com o garrote ligeiramente proeminente, o dorso é levemente selado, peitoral amplo mas não muito largo, tórax não muito profundo, ventre volumoso, costados encurvado, garupa ligeiramente em ogiva e mais elevada que o garrote, espáduas são curtas. Os membros são finos com canelas robustas, cascos pequenos e proporcionados.

A pelagem é predominantemente parda-rata e ruça, com presença de lista dorsal e por vezes lista transversal. Existem alguns animais cuja pelagem é castanha ou preta. Todos tem em comum o ventre e as extremidades dos membros serem deslavados e apresentam os olhos e nariz orlados de branco.
 

REPORTAGEM, reportagem da RTP Açores de Outubro de 2014, com o assunto "Burros da Graciosa vão ser raça autóctone". Veja o vídeo aqui.

FOTOS, todas as fotos publicadas foram obtidas na web do site do Público (Fugas), Wikipédia, SPREGA, CM, turismo.

























Franco Ceraolo, italiano de 61 anos que reside na Graciosa há nove, presidente da Associação de Criadores e Amigos do Burro Anão da Ilha Graciosa.





























ALGUNS PROVÉRBIOS COM "BURRO"

“Burro velho não aprende línguas”
Pessoa que não tem hábitos desde pequena não os ganha em adulta.

“Prender (ou amarrar) o burro”
Amuar. 

“Trabalhar como um burro” 
Trabalhar muito. 

“Vozes de burro não chegam ao céu.”
Bozes de burro nun chégan al cielo. (em Mirandês)
Não se faz caso do que uma pessoa diz se se tem a opinião de que ela não é importante. 

“Descer (ou cair) da burra” 
Aceitar uma opinião. 

“Burro de carga” 
Aquele que trabalha em excesso, aguentando com tudo e sem que daí venha grande resultado ou sem se queixar. 

“Cabeça de burro” 
Pessoa estúpida.


quinta-feira, 19 de abril de 2018

Fajã da Caldeira de Santo Cristo, Ilha de São Jorge, Açores.





Na sequência do "post" anterior acerca da Fajã dos Vimes e da situação única relativa à plantação do café, vou agora escrever acerca da Fajã da Caldeira de Santo Cristo e da particularidade de ser o único local dos Açores onde existe e se reproduz amêijoa.

Acerca da Fajã da Caldeira de Santo Cristo, é uma das cerca de 70 existentes na Ilha de São Jorge, localizada na costa Norte da ilha, entre as Fajãs dos Tijolos e da Redonda, freguesia da Ribeira Seca, Concelho da Calheta. Foi classificada em 1984 como Reserva Natural, pelo Governo Regional dos Açores, especialmente por causa da existência de amêijoas na sua lagoa denominada Lagoa da Fajã de Santo Cristo.

O único acesso é a pé ou de moto4. Os grupos de turistas costumam descer pela Caldeira de Cima, visitar a Fajã da Caldeira de Santo Cristo e caminhar até à Fajã dos Cubres por onde saem das fajãs. Este é, possivelmente o mais famoso circuito pedestre da ilha de São Jorge.

Com os temporais, sempre fortes nesta costa voltada a norte e o consequente mar bravo deu-se o entulhamento do canal que ligava a lagoa ao mar, este só há poucos anos é que foi restaurado. É uma lagoa de águas muito quentes e por isso frequentada por banhistas e veraneantes.

O terramoto de 1980 causou desmoronamentos em ambos os acessos da fajã, destruiu a rede telefónica, e isolou a Caldeira de Santo Cristo do resto do mundo. Os habitantes tiveram de ser retirados por um helicóptero da Força Aérea Portuguesa. Muitos deles fixaram residência noutros pontos da ilha de São Jorge e outros emigraram.

Esta fajã é um dos locais mais recônditos da ilha de São Jorge e graças à ondulação aqui existente e ao extraordinário envolvimento paisagístico, a Fajã de Santo Cristo é considerada um santuário do bodyboard e surf, sendo procurada por praticantes da modalidade vindos de todo o mundo.

Está classificada como sítio de importância internacional ao abrigo da Convenção de Ramsar (a Convenção sobre as Zonas Húmidas de Importância Internacional ou Convention on Wetlands of International Importance), relativa às Zonas Húmidas de Importância Internacional como Habitat de Aves Aquáticas, graças à sua lagoa. As aves mais frequentes nesta fajã são: O pato, o garajau, o cagarro, o ganso, o pardal, a lambandeira, o melro, e o estorninho e dezenas de outras aves migratórias que passam pela lagoa a caminho do seu destino.


AMÊIJOAS, são moluscos que possuem uma concha dupla (bivalve) que envolve todo o organismo e as protege dos predadores. No arquipélago dos Açores ocorrem poucas espécies de amêijoas com interesse pesqueiro. A única espécie comercialmente explorada é a vulgarmente conhecida por amêijoa-boa - Tapes decussatus -, que ocorre apenas na Ilha de São Jorge, mais precisamente na Lagoa da Fajã de Santo Cristo. Apesar de existir no continente (Algarve, Aveiro, etc.) em nenhum outro local atinge um tamanho tão grande como em São Jorge (mais de 8 cm).
A exploração deste recurso é regulamentada, as medidas adoptadas são:
  • Obrigatoriedade de todos os apanhadores possuírem uma "licença de apanha", efectuarem todas as descargas em lota e preencherem um "Diário de apanha";
  • Período de defeso entre 15 Maio e 15 de Agosto;
  • Tamanho mínimo de captura de 40 mm;
  • Proibição de captura na zona-entre-marés;
  • A captura máxima permitida por apanhador licenciado é de 50 kg por mês;
  • Utilização de ancinhos com um mínimo de 4 cm de distância entre dentes.
REPORTAGEM, reportagem da RTP Açores de Novembro de 2012, com o assunto "É seguro viver numa fajã de São Jorge?" com especial incidência na Fajã da Caldeira de Santo Cristo. Veja o vídeo aqui.

FOTOS, todas as fotos publicadas foram obtidas na web de variados sites e autores, Wikipédia, revista Fugas, Universidade dos Açores, turismo.



































A apanha da amêijoa


































Não há certezas sobre a origem desta espécie na lagoa de Santo Cristo, mas suspeita-se que tenha sido trazida, no final do século XIX, pelos ingleses que por aqui passaram quando da instalação do cabo submarino que ligaria Lisboa aos Açores, lê-se no site do Siaram, organismo da Direcção Regional do Ambiente do arquipélago. Talvez seja por isso que na fajã ainda há quem se refira às amêijoas como “clames”, adaptação da palavra inglesa clams.




Vejo, logo Existo

Sou um visual. O que na memória trago, trago-o visualmente, se susceptível é de assim ser trazido. Mesmo ao querer evocar em mim uma qualquer voz, um perfume qualquer, não evito que antes que ela ou ele me vislumbre no horizonte do espírito, me apareça à visão rememorativa a pessoa que fala, a coisa donde o perfume partiu. Não dou isto por absolutamente certo; pode ser que, radicada em mim de vez a persuasão de que sou um visual, no lugar final do sofisma que é a escuridão íntima do ser me fosse desde então impossível evitar que a ideia de que sou um visual não levantasse imediatamente uma imagem falsamente inspiradora. Seja como for, o menos que sou, é um visual predominantemente. Vejo, e vendo, vivo.

["Inéditos", Fernando Pessoa (1888-1935)]

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Fajã dos Vimes, Ilha de São Jorge, Açores.




Continuo a acordar bastante cedo nos últimos tempos, coloco os auscultadores e ouço rádio sintonizado na Antena 1, normalmente está a dar o programa do José Candeias, são estabelecidos contactos com os ouvintes, desta vez foi um ouvinte na Ilha do Faial, entre outros assuntos falou acerca da Fajã dos Vimes na Ilha de São Jorge e do café aí cultivado. Foi o suficiente para despertar a minha curiosidade e futuras pesquisas e blog acerca do assunto.

Acerca da Fajã dos Vimes, é uma das cerca de 70 existentes na Ilha de São Jorge, localizada na costa Sul da ilha, entre as Fajãs da Fonte do Nicolau e da Fragueira, freguesia da Ribeira Seca, Concelho da Calheta. Os terrenos nesta fajã encontram-se cultivados com milho, cevada, vinha, batata, feijão, cafeeiros e inhame. Aqui vêem desaguar as águas da Ribeira dos Vimes (nesta mesma ribeira brota uma fonte de água mineral), da Ribeira do Capadinho, e da Grota do Moledo ou Grotão. Conta com cerca de 80 residentes permanentes.

Esta fajã é famosa pelas chamadas colchas aqui produzidas feitas e tecidas por artesãs aqui nascidas e criadas, em antigos teares de pedais feitos em madeira.
Esta fajã também é famosa pelo cultivo de café, onde está localizada a maior plantação de café dos Açores, com cerca de 400 plantas, que após o devido processo se transformam num café que já tem fama um pouco por todo o mundo.

Quanto à origem do cultivo do café nesta fajã, em finais do século XVIII “um senhor da Fajã de São João” emigrou para o Brasil, lá trabalhou numa fazenda onde predominavam as plantações de café. Regressado a São Jorge no início do século XIX, traz consigo uma planta de café, o café arábica, que veio assim dar origem ao famoso café da Fajã dos Vimes. 

O senhor Manuel Nunes, dono da maior produção de café no arquipélago recorda que o clima da fajã é muito propício para a planta em si, caracterizada por ter um clima ameno e solo fértil. “Um clima dos melhores para o café, é muito quente e tem muita pedra”, salienta Manuel Nunes, evidenciando a qualidade do seu café. A família Nunes, tem cerca de 400 pés plantados, produz entre 100 a 150 kg por ano nos terrenos que tem por trás da sua casa, todo o processo de produção do café (cultivo, colheita, secagem, escolha dos grãos e torra) é biológico, manual e familiar, serve-o e vende-o no seu café " Café Nunes", o único café da fajã. O café é colhido entre os meses de Maio e Setembro, isto porque, segundo o produtor, “nunca vem todo de uma vez, vai saindo às camadas”, referindo que o tempo também é que o determina, sendo que “neste momento, em pleno mês de Fevereiro”, tem plantas já com flor, “o que não é normal nesta época do ano”, facto nunca antes visto por Manuel Nunes.

Diz quem provou que este café tem um sabor forte e inconfundível, na sua variedade arábica.

Por cima do Café Nunes, Alzira, a mulher de Manuel, e Carminda, irmã dela, manejam os grandes teares nos quais dão forma às típicas colchas de ponto alto, que se fabricam unicamente nesta fajã na “Casa de Artesanato Nunes”. Para além do enquadramento natural, que vale por si, são estas as duas particularidades que mais visitantes atraem, e Alzira já se resignou a parar o tear para mostrar a quem vem de visita onde e como se produz o café.
Manuel Nunes não sabe precisar, mas recebe anualmente muitas visitas de turistas e curiosos que querem ficar a saber um pouco mais acerca desta plantação e saborear aquele café que muitos afirmam ter “um sabor diferente e especial”. “Vem aqui muita gente, vêm de propósito das Velas aqui para provar o nosso café”. Umas dezenas de quilómetros que para muitos valem a pena, tal são a fama e a qualidade do café que se pode aqui. Este ano as visitas já começaram, o produtor afirma que no mês de Janeiro já apareceram dois grupos e que para Março já tem igualmente marcações. Segundo a  suas estimativas, no verão, chega a servir 200 cafés expresso no seu café.

Apesar de já ter recebido propostas, não quer exportar o seu café, comercializando-o apenas no seu estabelecimento, o "Café Nunes". “Não quero vender café meu para revenda, para os turistas levarem 50, 100 gramas, tudo bem”, adiantou Manuel Nunes. O produtor aponta como razão o facto de “ser uma indústria pequena, é tudo manual e dá muito trabalho”.


CURIOSIDADE DA FAJÃ DOS VIMES, uma ordem do Município da Calheta, datada de Novembro de 1661, cada em agricultor tinha de entregar, na administração do Concelho, 20 caudas de coelho, 30 caudas de rato e 30 bicos de pássaro. A isto era chamado: "O Imposto para a Salvação do Trigo". Era então obrigatório cada agricultor possuir um cão e um furão, para manter as suas terras limpas de coelhos e ratos.

FAJÃS, são terrenos planos ao nível do mar numa ilha que é muito escarpada e alta. Resultaram da acumulação de detritos, na sequência de terramotos, ou de escoadas lávicas das erupções vulcânicas e os seus terrenos planos e férteis, onde existe um microclima, acabaram por ser usados pelas populações, ao longo dos séculos, para a agricultura.

VIDEO, reportagem da TVI efectuada em Agosto de 2014 à plantação de café, é possível ouvir e ver as diferentes fases da produção, para ver clique aqui.

FOTOS, todas as fotos publicadas foram obtidas na web de variados sites e autores.


Fajã dos Vimes
Fajã dos Vimes
















O Sr. Manuel Nunes















O café é vendido na quantidade de 50 ou 100 gramas, nestes saquinhos, fabricados nos teares de madeira por cima do café.






















Plantação
Sr.ª Alzira Nunes















Os grãos secam ao sol e é Sr. Manuel Nunes quem trata de os debulhar, com a ajuda de uma pedra ou de um tijolo. A sua sogra, com 91 anos, escolhe os grãos e a mulher, Sr.ª Alzira, torra-os.





Casa de Artesanato Nunes

Colcha de São Jorge








Sr.ª Alzira Nunes e a irmã Carminda fazem colchas de ponto alto, outra arte e produção única da Fajã dos Vimes. Neste momento, são as duas únicas tecedeiras da fajã.






A água da chuva desce a ladeira.


A água da chuva desce a ladeira.
É uma água ansiosa.
Faz lagos e rios pequenos, e cheira
A terra a ditosa.

Há muito que contar a dor e o pranto
De o amor os não querer...
Mas eu, que também o não tenho, o que canto
É uma coisa qualquer.

["A água da chuva desce a ladeira" em "Poesias Inéditas (1919-1930)", Fernando Pessoa (1888-1935)]