Na sequência do "post" anterior acerca da Fajã dos Vimes e da situação única relativa à plantação do café, vou agora escrever acerca da Fajã da Caldeira de Santo Cristo e da particularidade de ser o único local dos Açores onde existe e se reproduz amêijoa.
Acerca da Fajã da Caldeira de Santo Cristo, é uma das cerca de 70 existentes na Ilha de São Jorge, localizada na costa Norte da ilha, entre as Fajãs dos Tijolos e da Redonda, freguesia da Ribeira Seca, Concelho da Calheta. Foi classificada em 1984 como Reserva Natural, pelo Governo Regional dos Açores, especialmente por causa da existência de amêijoas na sua lagoa denominada Lagoa da Fajã de Santo Cristo.
O único acesso é a pé ou de moto4. Os grupos de turistas costumam descer pela Caldeira de Cima, visitar a Fajã da Caldeira de Santo Cristo e caminhar até à Fajã dos Cubres por onde saem das fajãs. Este é, possivelmente o mais famoso circuito pedestre da ilha de São Jorge.
Com os temporais, sempre fortes nesta costa voltada a norte e o consequente mar bravo deu-se o entulhamento do canal que ligava a lagoa ao mar, este só há poucos anos é que foi restaurado. É uma lagoa de águas muito quentes e por isso frequentada por banhistas e veraneantes.
O terramoto de 1980 causou desmoronamentos em ambos os acessos da fajã, destruiu a rede telefónica, e isolou a Caldeira de Santo Cristo do resto do mundo. Os habitantes tiveram de ser retirados por um helicóptero da Força Aérea Portuguesa. Muitos deles fixaram residência noutros pontos da ilha de São Jorge e outros emigraram.
Esta fajã é um dos locais mais recônditos da ilha de São Jorge e graças à ondulação aqui existente e ao extraordinário envolvimento paisagístico, a Fajã de Santo Cristo é considerada um santuário do bodyboard e surf, sendo procurada por praticantes da modalidade vindos de todo o mundo.
Está classificada como sítio de importância internacional ao abrigo da Convenção de Ramsar (a Convenção sobre as Zonas Húmidas de Importância Internacional ou Convention on Wetlands of International Importance), relativa às Zonas Húmidas de Importância Internacional como Habitat de Aves Aquáticas, graças à sua lagoa. As aves mais frequentes nesta fajã são: O pato, o garajau, o cagarro, o ganso, o pardal, a lambandeira, o melro, e o estorninho e dezenas de outras aves migratórias que passam pela lagoa a caminho do seu destino.
AMÊIJOAS, são moluscos que possuem uma concha dupla (bivalve) que envolve todo o organismo e as protege dos predadores. No arquipélago dos Açores ocorrem poucas espécies de amêijoas com interesse pesqueiro. A única espécie comercialmente explorada é a vulgarmente conhecida por amêijoa-boa - Tapes decussatus -, que ocorre apenas na Ilha de São Jorge, mais precisamente na Lagoa da Fajã de Santo Cristo. Apesar de existir no continente (Algarve, Aveiro, etc.) em nenhum outro local atinge um tamanho tão grande como em São Jorge (mais de 8 cm).
A exploração deste recurso é regulamentada, as medidas adoptadas são:
- Obrigatoriedade de todos os apanhadores possuírem uma "licença de apanha", efectuarem todas as descargas em lota e preencherem um "Diário de apanha";
- Período de defeso entre 15 Maio e 15 de Agosto;
- Tamanho mínimo de captura de 40 mm;
- Proibição de captura na zona-entre-marés;
- A captura máxima permitida por apanhador licenciado é de 50 kg por mês;
- Utilização de ancinhos com um mínimo de 4 cm de distância entre dentes.
FOTOS, todas as fotos publicadas foram obtidas na web de variados sites e autores, Wikipédia, revista Fugas, Universidade dos Açores, turismo.
A apanha da amêijoa
Não há certezas sobre a origem desta espécie na lagoa de Santo Cristo, mas suspeita-se que tenha sido trazida, no final do século XIX, pelos ingleses que por aqui passaram quando da instalação do cabo submarino que ligaria Lisboa aos Açores, lê-se no site do Siaram, organismo da Direcção Regional do Ambiente do arquipélago. Talvez seja por isso que na fajã ainda há quem se refira às amêijoas como “clames”, adaptação da palavra inglesa clams.
Vejo, logo Existo
Sou um visual. O que na memória trago, trago-o visualmente, se susceptível é de assim ser trazido. Mesmo ao querer evocar em mim uma qualquer voz, um perfume qualquer, não evito que antes que ela ou ele me vislumbre no horizonte do espírito, me apareça à visão rememorativa a pessoa que fala, a coisa donde o perfume partiu. Não dou isto por absolutamente certo; pode ser que, radicada em mim de vez a persuasão de que sou um visual, no lugar final do sofisma que é a escuridão íntima do ser me fosse desde então impossível evitar que a ideia de que sou um visual não levantasse imediatamente uma imagem falsamente inspiradora. Seja como for, o menos que sou, é um visual predominantemente. Vejo, e vendo, vivo.
["Inéditos", Fernando Pessoa (1888-1935)]
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