Continuo a acordar bastante cedo nos últimos tempos, coloco os auscultadores e ouço rádio sintonizado na Antena 1, normalmente está a dar o programa do José Candeias, são estabelecidos contactos com os ouvintes, desta vez foi um ouvinte na Ilha do Faial, entre outros assuntos falou acerca da Fajã dos Vimes na Ilha de São Jorge e do café aí cultivado. Foi o suficiente para despertar a minha curiosidade e futuras pesquisas e blog acerca do assunto.
Acerca da Fajã dos Vimes, é uma das cerca de 70 existentes na Ilha de São Jorge, localizada na costa Sul da ilha, entre as Fajãs da Fonte do Nicolau e da Fragueira, freguesia da Ribeira Seca, Concelho da Calheta. Os terrenos nesta fajã encontram-se cultivados com milho, cevada, vinha, batata, feijão, cafeeiros e inhame. Aqui vêem desaguar as águas da Ribeira dos Vimes (nesta mesma ribeira brota uma fonte de água mineral), da Ribeira do Capadinho, e da Grota do Moledo ou Grotão. Conta com cerca de 80 residentes permanentes.
Esta fajã é famosa pelas chamadas colchas aqui produzidas feitas e tecidas por artesãs aqui nascidas e criadas, em antigos teares de pedais feitos em madeira.
Esta fajã também é famosa pelo cultivo de café, onde está localizada a maior plantação de café dos Açores, com cerca de 400 plantas, que após o devido processo se transformam num café que já tem fama um pouco por todo o mundo.
Quanto à origem do cultivo do café nesta fajã, em finais do século XVIII “um senhor da Fajã de São João” emigrou para o Brasil, lá trabalhou numa fazenda onde predominavam as plantações de café. Regressado a São Jorge no início do século XIX, traz consigo uma planta de café, o café arábica, que veio assim dar origem ao famoso café da Fajã dos Vimes.
O senhor Manuel Nunes, dono da maior produção de café no arquipélago recorda que o clima da fajã é muito propício para a planta em si, caracterizada por ter um clima ameno e solo fértil. “Um clima dos melhores para o café, é muito quente e tem muita pedra”, salienta Manuel Nunes, evidenciando a qualidade do seu café. A família Nunes, tem cerca de 400 pés plantados, produz entre 100 a 150 kg por ano nos terrenos que tem por trás da sua casa, todo o processo de produção do café (cultivo, colheita, secagem, escolha dos grãos e torra) é biológico, manual e familiar, serve-o e vende-o no seu café " Café Nunes", o único café da fajã. O café é colhido entre os meses de Maio e Setembro, isto porque, segundo o produtor, “nunca vem todo de uma vez, vai saindo às camadas”, referindo que o tempo também é que o determina, sendo que “neste momento, em pleno mês de Fevereiro”, tem plantas já com flor, “o que não é normal nesta época do ano”, facto nunca antes visto por Manuel Nunes.
Diz quem provou que este café tem um sabor forte e inconfundível, na sua variedade arábica.
Por cima do Café Nunes, Alzira, a mulher de Manuel, e Carminda, irmã dela, manejam os grandes teares nos quais dão forma às típicas colchas de ponto alto, que se fabricam unicamente nesta fajã na “Casa de Artesanato Nunes”. Para além do enquadramento natural, que vale por si, são estas as duas particularidades que mais visitantes atraem, e Alzira já se resignou a parar o tear para mostrar a quem vem de visita onde e como se produz o café.
Manuel Nunes não sabe precisar, mas recebe anualmente muitas visitas de turistas e curiosos que querem ficar a saber um pouco mais acerca desta plantação e saborear aquele café que muitos afirmam ter “um sabor diferente e especial”. “Vem aqui muita gente, vêm de propósito das Velas aqui para provar o nosso café”. Umas dezenas de quilómetros que para muitos valem a pena, tal são a fama e a qualidade do café que se pode aqui. Este ano as visitas já começaram, o produtor afirma que no mês de Janeiro já apareceram dois grupos e que para Março já tem igualmente marcações. Segundo a suas estimativas, no verão, chega a servir 200 cafés expresso no seu café.
Apesar de já ter recebido propostas, não quer exportar o seu café, comercializando-o apenas no seu estabelecimento, o "Café Nunes". “Não quero vender café meu para revenda, para os turistas levarem 50, 100 gramas, tudo bem”, adiantou Manuel Nunes. O produtor aponta como razão o facto de “ser uma indústria pequena, é tudo manual e dá muito trabalho”.
CURIOSIDADE DA FAJÃ DOS VIMES, uma ordem do Município da Calheta, datada de Novembro de 1661, cada em agricultor tinha de entregar, na administração do Concelho, 20 caudas de coelho, 30 caudas de rato e 30 bicos de pássaro. A isto era chamado: "O Imposto para a Salvação do Trigo". Era então obrigatório cada agricultor possuir um cão e um furão, para manter as suas terras limpas de coelhos e ratos.
FAJÃS, são terrenos planos ao nível do mar numa ilha que é muito escarpada e alta. Resultaram da acumulação de detritos, na sequência de terramotos, ou de escoadas lávicas das erupções vulcânicas e os seus terrenos planos e férteis, onde existe um microclima, acabaram por ser usados pelas populações, ao longo dos séculos, para a agricultura.
VIDEO, reportagem da TVI efectuada em Agosto de 2014 à plantação de café, é possível ouvir e ver as diferentes fases da produção, para ver clique aqui.
FOTOS, todas as fotos publicadas foram obtidas na web de variados sites e autores.
Fajã dos Vimes |
Fajã dos Vimes |
O Sr. Manuel Nunes |
O café é vendido na quantidade de 50 ou 100 gramas, nestes saquinhos, fabricados nos teares de madeira por cima do café. |
Plantação |
Sr.ª Alzira Nunes |
Os grãos secam ao sol e é Sr. Manuel Nunes quem trata de os debulhar, com a ajuda de uma pedra ou de um tijolo. A sua sogra, com 91 anos, escolhe os grãos e a mulher, Sr.ª Alzira, torra-os.
Casa de Artesanato Nunes
Colcha de São Jorge |
Sr.ª Alzira Nunes e a irmã Carminda fazem colchas de ponto alto, outra arte e produção única da Fajã dos Vimes. Neste momento, são as duas únicas tecedeiras da fajã.
A água da chuva desce a ladeira.
A água da chuva desce a ladeira.
É uma água ansiosa.
Faz lagos e rios pequenos, e cheira
A terra a ditosa.
Há muito que contar a dor e o pranto
De o amor os não querer...
Mas eu, que também o não tenho, o que canto
É uma coisa qualquer.
É uma água ansiosa.
Faz lagos e rios pequenos, e cheira
A terra a ditosa.
Há muito que contar a dor e o pranto
De o amor os não querer...
Mas eu, que também o não tenho, o que canto
É uma coisa qualquer.
["A água da chuva desce a ladeira" em "Poesias Inéditas (1919-1930)", Fernando Pessoa (1888-1935)]
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