Nesta publicação vou falar da minha primeira mota e única até agora, a Yamaha DT 125 MX versão de 1981, com as cores mostradas nas imagens. Comprei a moto e utilizei somente enquanto morei em Magoito, com utilização 99,99% em terra, o alcatrão era somente utilizado para abastecimento ou então em troços de ligação entre as "andanças" na terra.
Impossível de descrever o gozo e o prazer proporcionado pelas muitas horas passadas a andar na terra, mesmo quando caia era espectacular para quem assistia e muitas vezes para mim também conforme a dor se manifestasse pouco. Como dizia o filósofo/psicólogo fundador da Psicologia Social, Gustave Le Bon "Prazer e Dor São as Únicas Certezas da Vida", confirmei variadas vezes num só dia, não era necessário esperar pelo fim da vida.
Era com bastante ansiedade que esperava pelos sábados para andar de mota várias horas na terra, para mim representava o escape semanal, servia para manter o meu "físico" tal era o desgaste que essas horas me proporcionavam, "limpava" o cérebro porque durante esse período não dava para pensar em mais nada.
Semanalmente só tinha tempo para andar ao sábado porque ao domingo era muito perigoso, normalmente era dia de caça, o barulho das motas assustava a caça, muitas vezes quando se tentava andar, mesmo devagar, ouviam-se vários tiros de caçadeira de aviso para perto dos locais de passagem, olhava-se em redor e não se via ninguém por estarem escondidos, também ninguém queria confirmar a origem dos disparos, porque seria?
Artigo publicado no "Jornal dos Clássicos", edição de 14 de Novembro de 2012, sobre a Yamaha DT 125 MX com o título "A rainha líder":
Conhecida pela juventude simplesmente como DT, este modelo da Yamaha foi ao longo dos tempos um verdadeiro sucesso comercial.
É inevitável que todos aqueles que de uma forma ou outra tiveram nas motos um dos temas de conversa durante a sua juventude, tenham mencionado pelo menos uma vez a Yamaha DT. Primeiro com a versão de 50cc, mais tarde com a mais potente 125cc. Hoje a nossa escolha recai sob esta última, mais especificamente na versão MX. Quando foi apresentada em 1967, a Yamaha Motor Company prometeu que a DT viria a ser uma verdadeira aliada das passeatas por grandes estradas de terra e iniciaria muito boa gente na prática do todo-o-terreno. De facto assim o foi. Sob a simples designação DT – a nomenclatura para “Dirty Trail”, a marca nipónica soube cativar uma fatia do mercado que estava sedenta de emoções fortes, se bem que esta era ainda um pouco inexperiente. Mas era precisamente essa juventude que não estava habituada a pilotar fora do alcatrão que a marca do diapasão queria agarrar. Daí que um ano após ter lançado a DT1, a Yamaha tenha mostrado a DT125. O sucesso foi imediato e o fabricante nipónico não parou mais de evoluir este conceito, sempre sob a designação de DT.
A ideia de produzir uma moto com apenas 125cc de capacidade levou a que a marca tivesse que seguir alguns requisitos. A DT teria que ter um peso baixo, possuir uma boa estabilidade e ao mesmo tempo ser de fácil utilização, dentro e fora de estrada. Para isso, os técnicos da Yamaha recorreram a um motor a dois tempos de apenas um cilindro. O baixo peso conseguido no conjunto permitiu uma óptima habituação dos utilizadores da DT que apesar de não ultrapassarem demasiado a barreira dos 110 km/hora tinham na DT 125 uma excelente escola de condução.
O resto é história, claro. Seguiram-se as mais diversas versões da DT, fossem com a tecnologia LC ou YPVS que permitiram ao utilizador desfrutar de melhores prestações.
Actualmente a DT125 é uma excelente moto de colecção e apesar de se terem vendido bastante bem, também em Portugal, não é uma moto que se veja muito representada no Mercado de veículos usados.
CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS, motor mono-cilíndrico a 2 tempos; cilindrada 123cc; potência de 13 cv às 7500 rpm; sistema de arranque por pedal de kick; caixa de seis velocidades de pé; transmissão por corrente à roda traseira; travões de tambor à frente e atrás; peso 106 Kg; depósito de combustível para 7 litros; velocidade máxima de 105 km/hora.
FOTOS, todas as fotos publicadas foram obtidas na web da WikiPedia e variados sites de motos.
Pequeno vídeo que ilustra a forma como andava na terra, embora neste vídeo como está a ser filmado parece o rato na gaiola a andar na roda. O som da minha mota tinha "mais estilo".
Prazer e Dor São as Únicas Certezas da Vida
Os filósofos têm tentado abalar todas as nossas certezas e mostrar que do mundo conhecemos apenas aparências. Possuiremos sempre, porém, duas grandes certezas, que nada poderia destruir: o prazer e a dor. Toda a nossa actividade deriva delas. As recompensas sociais, os paraísos e os infernos criados pelos códigos religiosos ou civis baseiam-se na acção dessas certezas, cuja evidente realidade não pode ser contestada.Desde que a vida se manifesta, surgem o prazer e a dor. Não é o pensamento, mas a sensibilidade, que nos revela o nosso “eu”. Se dissesse: “Sinto, logo existo” ao invés de: “Penso, logo existo”, Descartes estaria muito perto da verdade. Assim modificada, a sua fórmula aplica-se a todos os seres e não a uma fracção apenas da humanidade. Dessas duas certezas poder-se-ia deduzir a completa filosofia prática da vida. Fornecem uma resposta segura à eterna pergunta tão repetida desde o Eclesiastes: por que tanto trabalho e tantos esforços, já que a morte nos espera e o nosso planeta se extinguirá um dia?
Porquê? Porque o presente ignora o futuro e no presente a Natureza condena-nos a procurar o prazer e a evitar a dor.
O operário, curvado sob o peso do trabalho, a irmã de caridade, a quem não repugna nenhuma chaga, o missionário torturado pelos selvagens, o sábio que procura a solução de um problema, o obscuro micróbio que se agita no fundo de uma gota d'água, todos obedecem aos mesmos estimulantes de actividade: o atractivo do prazer, o receio da dor.
Nenhuma actividade tem outro móbil. Não poderíamos mesmo imaginar móbis diferentes desses. Só os nomes podem variar. Prazeres estéticos, guerreiros, religiosos, sexuais, etc., são formas diversas do mesmo aspecto fisiológico A actividade dos seres se dissiparia se desaparecessem as duas certezas que são os seus grandes móbis: o prazer e a dor.
["Prazer e Dor São as Únicas Certezas da Vida" em "As Opiniões e as Crenças" (1922), Gustave Le Bon (1841-1931)]
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