Como o Pavilhão do Dramático de Cascais era um espaço com grande lotação +/- 10.000 espectadores, para além das bancadas de cada lado do ringue onde o palco era montado, sobrava a restante área do ringue para espectadores, foi escolhido para concertos. Como qualquer pavilhão destinado à prática desportiva, a acústica não era das melhores e mesmo as condições de segurança não seriam as mais recomendadas. O primeiro concerto foi também o primeiro Festival de Jazz de Cascais em Novembro de 1971.
Assisti a vários concertos a partir da segunda metade dos anos 70, no grupo de amigos era obrigatório ir a Cascais em dia de concerto - mesmo sem bilhete. Havia um ritual, comprar um bom frango assado para cada um, batatas fritas e cerveja, ir comer e beber na baía a ver o mar, no fim ir até ao pavilhão.
Se tínhamos bilhete, entrava-se e ficava-se a "morder" o ambiente até à hora de início do concerto.
Se não tínhamos bilhete, ia-se para a entrada, que era única e afunilava as pessoas no acesso, começava o jogo do "não empurrem, é pá não empurrem", com força e muito engenho, de vez em quando, tínhamos um felizardo de um atleta de 100 metros a alcançar um recorde mundial!
Não se pense que o jogo do "não empurrem" era fácil, à volta do jardim em frente ao pavilhão havia muitas carrinhas do corpo de intervenção do COPCON que zelava pela segurança com excesso e denodo, mais tarde substituído pela actuação fora do pavilhão pelos comandados do Chefe Catita, da PSP (mais tarde vim a conhecê-lo pessoalmente, já reformado, era pai de um amigo e vizinho em Cascais). Independentemente de quem, os ditos dentro das carrinhas estavam prontos para "educar" a juventude actual da época ... Batemos o recorde no concerto dos Dr. Feelgood, com 6 cargas policiais mais ou menos longas, só parávamos na baía, aguardávamos até tudo acalmar, depois lá iniciávamos o regresso para nova ronda do jogo. Tentava-se até ao início do concerto, depois era mais difícil porque para resultar tinha que haver pessoas com bilhete a entrar. Quando a qualidade do som que chegava ao exterior era aceitável, ficávamos a ouvir durante algum tempo.
Com ou sem bilhete ficava-se sempre com "o oxigénio e o cheirinho" de um concerto!
Segundo rezam as notícias houve tumultos dentro e fora do pavilhão antes, durante e depois dos concertos dos Tubes, Dr. Feelgood, Stranglers, Joe Jackson, Lene Lovich, Lou Reed, Steve Harley, Clash, Iggy Pop, Ian Dury, Boomtown Rats, Dexys Midnight Runners ou Ramones. Acuso-me de só ter participado em 2 destes eventos, actualmente talvez dessem o nome de "Sunset": Dr. Feelgood e Stranglers.
O último concerto aconteceu em Novembro de 1998, nessa altura, o risco de derrocada já era aparente e existia uma bancada interditada, começou a ser demolido em Setembro de 2005. Actualmente é um pacífico parque de estacionamento, PAGO, claro está, temos que aderir às modernices.
JORNALISTA NUNO GALOPIM, recorda que "Em final dos anos 70, início dos anos 80, numa altura em que não havia o hábito de se realizarem concertos em Lisboa, aquele era o espaço de fuga com sabor a rock and roll que conhecíamos", não era um espaço sofisticado, não tinha um som magnífico, mas perante nada, aquele pouco sabia a tudo. Nós acampávamos na estação à espera do primeiro comboio da manhã, passávamos a noite fora de casa".
"No final, o Dramático tornou-se um espaço para a música mais pesada, talvez por não exigir uma sofisticação acústica tão grande como outros artistas que se mudaram para o Coliseu ou a Aula Magna".
"O Dramático teve o seu tempo e está na memória de quem o viveu".
LOU REED, o ex-vocalista dos Velvet Undergroud, que tinha datas marcadas para o Porto e Cascais, encontrou a Invicta em noite de São João, "apanhou uma bebedeira monstruosa" e não foi capaz de actuar. Para compensar, deu um concerto de três horas no Dramático".
FOTOS, todas as fotos publicadas foram obtidas na web dos sites do jornal de Notícias, RTP, Dramático de Cascais e WikiPédia.
Em 2004, um ano antes da demolição |
Aspecto da bancada |
Processo de demolição iniciado. |
The End |
"O mundo é um belo lugar e vale a pena lutar por ele e eu detesto muito deixá-lo."
[Ernest Hemingway (1899-1961)]
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