sábado, 9 de junho de 2018

O meu segundo carro - Citroën Dyane























Na sequência do blog anterior, o segundo carro que tive foi um Citroën Dyane com a cor da imagem acima, tinha como extra uma capota de fibra de vidro da mesma cor para utilizar no inverno.
Era diferente em tudo relativamente ao primeiro carro Opel Olympia Rekord P2, menor dimensão, menor peso (600 Kg), muito menos potência, chapa da carroçaria a lembrar as latas de conserva de tão fina que era, mas suspensão superior, consumo inferior e muito importante era a tracção à frente que mudava de uma forma radical o estilo de condução.
Nunca foi preciso empurrar devido a falta de gasolina ou outro qualquer problema porque pegava também à manivela, utilizada muitas vezes por variados motivos.
A Dyane, tal como o Opel deram-me muito gozo enquanto os tive, mas a Dyane proporcionou-me muitas aventuras, histórias, alegrias e pelo menos uma má memória, mas continua a ser de longe o carro que me deixou mais saudades por todos os bons momentos vividos e partilhados.

Continuo a pensar que o fim do ciclo com a Dyane marcou a minha entrada na idade "adulta".

Alguma das situações, histórias, alegrias, aventuras, etc:
1.º Grande Prémio de Formula 1 de Portugal (1984), dias muito chuvosos, na entrada para o estacionamento, reparei que os carros à frente iam pela direita e pela esquerda e evitavam o centro, o "esperto" do condutor pensando que se estavam a desviar devido ao mau piso, toca de acelerar para aterrar num buraco grande cheio de água e lama, foi tal impacto com a "solução aquosa" que o motor parou e não consegui pô-lo a trabalhar novamente. Rodeados de água e lama, abrimos a capota do tejadilho e de pé ficamos a pensar e a observar a situação, éramos alvo de gozo por todos os que entravam e passavam de cada lado. Veio ter connosco um GNR a cavalo a perguntar se precisávamos de ajuda, resposta óbvia que sim! veio um Jipe da GNR que nos rebocou para "terra", após nos deixar num local seguro, abrimos o capot do motor que estava todo castanho da lama. Nem pensamos que ao secar seria muito pior para limpar, arrancamos logo para ver a corrida que depois no fim trataríamos da questão.Após o final da corrida, só após cerca de 3 horas é que acabámos a limpeza, o motor pegou e nos fomos embora.
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Um dia no Magoito resolvi ir sozinho ver o mar indo até à falésia por cima da actual praia do Geribeto, costumava ir a pé mas desta vez resolvi ir de Dyane. Para quem não conhece todo o percurso do pinhal é arenoso e parte do percurso a descer até à falésia também é muito arenoso (areia da praia misturada com terra).
Até ao destino tudo correu bem com a condução habitual, mudança mais baixa, rotação elevada e movimentação do volante esquerda-direita para evitar que os pneus da frente se enterrem.
Após o momento "zen" a observar o mar, muito relaxado e calmo, resolvi regressar, primeiro teria que subir da falésia até ao pinhal, depois o pinhal e finalmente casa.
Meti-me no carro, teria que acelerar muito para vencer a subida arenosa, assim fiz, cheguei a meio até ficar enterrado na areia, esqueci-me de um pequeno pormenor chamado "potência do motor".
Sozinho no meio da subida com o carro enterrado, sem poder avançar nem voltar para trás, fiquei largos minutos a pensar na situação e na respectiva solução e ao mesmo tempo a chamar-me muitos nomes. Não podia chamar ninguém para me ajudar para não ser ridicularizado.
Lá resolvi avançar para a única solução, apanhar tudo o que fosse possível de servir como base solida para ter tracção para os pneus da frente, avançava um pouco e depois repetia a operação até chegar ao topo da subida. Assim foi, fui subindo metro a metro, atingi o topo ao fim de algumas horas, completamente esgotado fisicamente mas muito feliz pela conquista, parecia que tinha chegado ao topo do Monte Evereste.
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Outra situação que me dava muito gozo era curvar na Dyane, apesar da extrema leveza do carro, era muito seguro a curvar, parecia uma lapa agarrada ao alcatrão. Explorava muito esta situação, estando no Magoito íamos muitas vezes à Ericeira, no caminho para lá acontecia muitas vezes que "grandes" carros aceleravam muito nas rectas e ultrapassavam-me, depois era só esperar até ao início da zona das curvas e contra-curvas até à Foz do Lizandro, apanhava-os a todos, nem sabiam de que terra eram, com uma Dyane colada a apitar e a fazer sinal de ultrapassagem! (infantilidade).
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No dia da implementação de um projecto informático em 1984 em Lisboa, que se iniciava às 7h30m de sexta-feira, resolvi levar a Dyane até Lisboa em vez de a deixar em Sintra como era habitual porque já sabia que iria sair muito tarde e era mais cómodo. Ao fim de 46 horas consecutivas de trabalho, iniciei a viagem de regresso a casa, que viagem difícil com luta constante contra a sonolência, consegui fazer toda a IC19, chegar a Sintra e fazer parte do percurso até Magoito. A cinco quilómetros de casa, na Fachada, ao curvar para a esquerda adormeci, não devo ter desfeito com o volante a curva, acordei com o carro a saltar devido a ter descido e subido a valeta, rodei o volante para a direita com a frente ainda a bater no muro de pedras, consegui endireitar e continuei mais alguns metros a conduzir, mas estava a ouvir uns barulhos esquisitos que resolvi estacionar para ver o "resultado".
Saí do carro, era noite cerrada, estava tão cansado e sem paciência nenhuma que resolvi continuar a pé até casa, durante o percurso o mais assustador foi sentir-me a adormecer enquanto caminhava e só pensava que se adormecer caio na estrada e ainda sou atropelado. Consegui chegar a casa, deitei-me sem fazer barulho, ninguém deu por nada. Os meus pais passaram pelo carro, questionaram o que eu estaria ali a fazer na Fachada, só às 18h00m é que deram por mim e me acordaram e lá fomos todos buscar o carro.
Situação do carro, guarda lama ligeiramente amachucado, o aro à volta do farol desaparecido, farol soltou-se e ficou preso pelos fios, resto todo impecável. O barulho que tinha ouvido após o acidente era o farol solto a bater no guarda lamas. Grande carro, penso que fui salvo pela suspensão que me acordou ao saltar da valeta. Esta foi a minha vacina quanto a nunca conduzir com sonolência.

CITROËN DYANE, um modelo que nasceu com a difícil tarefa de assumir o lugar do icónico 2 CV. Era uma proposta mais actual e elegante, equipamento mais refinado e estética diferente com carroçaria mais dinâmica e linhas mais angulares, a Dyane nunca se assumiu como um verdadeiro sucessor do 2 CV. E prova disso é o facto da produção do Dyane ter chegado ao fim antes mesmo da do 2CV. Apresentado em 1967 durante o Salão Automóvel de Paris, a Dyane destacou-se pelo desenho da porta traseira que dava acesso ao porta-bagagens, pela capota "retráctil" de duas posições, banco traseiro removível e faróis dianteiros incorporados nos pára-choques. Com 3.90 metros de comprimento e capacidade para quatro ocupantes, a Dyane foi produzida nas mesmas linhas de montagem do 2 CV e utilizava o mesmo motor de 435cc acoplado a uma caixa de quatro velocidades e tracção dianteira. A produção da Dyane durou até 1983, altura em que este Citroën somava 1.444.583 unidades vendidas, sendo que pelo meio se foi diversificando e dando origem a versões distintas. Falamos sobretudo da Dyane 4, que contava com um motor de 435 cc, e da Dyane 6 que contava com um motor de 602 cc.
A fábrica portuguesa da Citroën, localizada em Mangualde, produziu naquele período 27 660 automóveis deste modelo. Foram produzidas para o mercado português duas versões exclusivas deste modelo: a Dyane Dyanissima e a Dyane Nazaré.

MOTOR, Boxer 2, cilindrada de 602cc, 2 cilindros, 2 válvulas por cilindro, 4 válvulas total, refrigerado a ar, 32 cv às 5750 rotações, gasolina.

FOTOS, todas as fotos publicadas foram obtidas na web da WikiPedia, variados sites de automóveis clássicos e de www.citroenorigins.pt.














































Exemplo de um Citroën Dyane a curvar, que saudades desta adrenalina!



Anúncio icónico ao Citroën Dyane na televisão portuguesa.








Conquista

Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.

Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!


["Conquista" em "Cântico do Homem" (1950), Miguel Torga (1907-1995)]


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