Durante a minha estadia em Estocolmo, Suécia no período de Agosto de 1982 a Abril de 1984, para formação e estágio em equipamento e software para implementar num projecto muito importante num cliente em Lisboa.
Como acontece com toda a gente, para além dos passeios turísticos para visitar zonas, cidades e outros locais, aproveita-se para se visitar museus, só que no caso da Suécia estávamos avisados para os visitar somente no inverno onde os dias são mais curtos e há neve - sabe muito bem estar em locais quentes e confortáveis.
Um dos museus que fomos visitar foi o Vasa Museet - o museu mais visitado na Escandinávia, acerca do trabalho de recuperação e preservação de um galeão que se afundou em 1628 na sua viagem inaugural e que foi resgatado do fundo do mar em 1961 estando em recuperação e preservação desde então.
O Vasa é o único navio de guerra do século XVII existente no mundo. Com 95% do casco original do barco preservado e ornamentado com centenas de esculturas talhadas, o Vasa é um tesouro artístico único e uma das maiores atracções turísticas do mundo. O navio encontra-se exposto num museu especialmente edificado para o albergar, situado em Estocolmo. No interior deste museu, são apresentadas nove exposições relacionadas com o navio.
O Vasa foi construído em Estocolmo, ao todo, trabalharam no Vasa, quatrocentas pessoas. O navio foi mandado construir por Gustavo Adolfo II, rei da Suécia, e demorou dois anos a ser terminado. Possuía três mastros e podia suportar dez velas, media 52 metros da cabeça do mastro à quilha e 69 metros da proa à popa e pesava 1200 toneladas. Depois de terminado, tornou-se num dos barcos mais poderosos jamais construído.
A conservação e manutenção do Vasa constituem uma tarefa ininterrupta. A sua conservação depende essencialmente de um clima estável. Enquanto os destroços estiveram submersos, as cavilhas de ferro desfizeram-se com a ferrugem, escurecendo as tábuas de carvalho. No final, apenas estava preso por cavilhas de madeira. Os poluentes existentes na água formaram grandes quantidades de enxofre, que foi penetrando na madeira. Actualmente, o enxofre reage com o oxigénio transformando-se em ácido sulfúrico, que é nocivo para a madeira, mas inofensivo para os visitantes do museu. As investigações para a conservação a longo prazo do Vasa continuam.
Quando o Vasa se afundou, o tempo parece ter parado. O que foi recuperado em 1961 foi uma peça em bom estado de conservação do século XVII. Cada um dos inúmeros objectos recuperados tem uma história para contar. No meio da lama e do lodo, no fundo do Vasa, os autores do achado encontraram as seis velas que não tinham sido desfraldadas quando o navio naufragou. São as velas mais antigas do mundo a terem sido recuperadas e, antes do trabalho de conservação, encontravam-se num estado de fragilidade extrema. As investigações sobre os achados continuam ainda. No museu, encontram-se em exposição vários objectos exclusivos, dando a conhecer vivências de outras eras e dos respectivos povos, encontram-se também esqueletos dos membros da tripulação, bem como os seus pertences e o equipamento do navio.
A visita foi muito interessante para mim em particular por o meu pai ser da marinha e sempre se falar de navios de guerra, veleiros e outros temas. Quando entramos no museu o primeiro impacto foi o cheiro que circulava no ar devido aos trabalhos de preservação na altura, depois olhar para "algo" com um porte imponente que esteve afundado para cima de trezentos anos. Este museu sempre que for visitado pelo próprio apresentará sempre mais novidades conforme for evoluindo a restauração e preservação.
FENDAS E ENCOLHIMENTO, para evitar fendas e encolhimento, desde 1962 a 1972, o galeão foi conservado por pulverização com uma cera solúvel em água, polietilenoglicol ou PEG. O tratamento dura 17 anos. Milhares de parafusos de aço suave são inseridos para manter a estrutura unida. As partes superiores do navio são reconstruídas.
NOVO MUSEU VASA, em 1988, seis anos após a visita, o galeão é movido para o recém-construído Museu Vasa. A conservação é considerada completa. Para que tal fosse possível em 1979 as pulverizações foram completamente interrompidas e gradualmente secaram ao longo dos anos seguintes até 1988, uma vez que a humidade do ar diminuiu de cerca de 95 para 60%. A superfície da madeira é tratada com uma camada extra de PEG para protecção física. A inauguração oficial do novo museu só ocorreu em 1990.
FOTOS, a foto inicial e posteriores que publico mostram parte da restauração e preservação, foram tiradas por mim no inverno de 1982 durante a minha estadia em Estocolmo.
A discussão que havia na altura, como seria a arquitectura do futuro museu? |
Entrada no museu em 1982 |
Entrada no museu em 1982 |
Aspecto após a entrada no museu, começamos pelo lado esquerdo e contornávamos o galeão.
São visíveis os materiais da operação de restauro e preservação.
Novo museu Vasa
Planta |
Tudo vence uma vontade obstinada, todos os obstáculos abate o homem que integrou na sua vida o fim a atingir e que está disposto a todos os sacrifícios para cumprir a missão que a si próprio se impôs. Atento ao mundo exterior, para que não falte nenhuma oportunidade de pôr em prática o pensamento que o anima, não deixa que ele o distraia da tensão interna que lhe há-de dar a vitória; tem os dotes do político e os dotes do artista, quer modelar o mundo segundo o esquema que ideou. Não se trata, claro, de um triunfo pessoal; em história da cultura não há triunfos pessoais; ou a vontade é pura e generosa, nitidamente orientada ao bem geral, ou mais cedo, mais tarde, se há-de quebrar contra vontades de progresso mais fortes que ela. Que o querer tenha sua origem e seu apoio em coração aberto à nobreza, à beleza e à justiça; de outro modo é apenas gume fino e duro de faca; por isso mesmo frágil, na sua aparente penetração e resistência. Vontade inteligente, e não manhosa, altruísta, e não virada ao sujeito, pedagógica, e não sedenta de domínio; a esta pertencem os séculos por vir: é a voz a que surgem; a outra estabelece os muros que ainda tentam defender o passado.
["A Força da Vontade" em "Considerações e outros textos" (1988), Agostinho da Silva (1906-1994)]
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